sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Moradores antigos dizem nunca terem passado por uma enchente semelhante

A prefeitura e o presidente do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do rio dos Sinos confirmaram na última quarta-feira que a enchente deste ano é a maior desde a de 1965. Em muitos bairros, a água ainda não baixou. O tenente-coronel Alexandre Teixeira dos Santos, coordenador regional da Defesa Civil na Área Metropolitana, explica que o nível do Rio dos Sinos tem baixado 10 centímetros a cada 12 horas e que o vento continua soprando do norte, o que ajuda a aumentar a vazão das águas. 

– Acredito que, em São Leopoldo, ainda leve 72 horas para que o nível da água baixe ao ponto de aliviar as casas. Em Alvorada, outra região bem crítica (é uma planície), pode levar até 10 dias – estima o tenente-coronel.

Com a enchente, as milhares de residências construídas nas últimas décadas às margens do rio nada mais são que um cartão postal macabro de um lugar onde a maioria dos vizinhos se conhecem e gostam de viver, por ser mais tranquila que outras localidades de São Leopoldo. Os moradores da Feitoria dizem nunca ter sofrido algo parecido como agora.

Na rua Afonso Schaeffel desde 1981, Maria Toledo Rosa, 58 anos, lamenta o prejuízo causado pela chuvarada. A artesã havia alugado há uma semana o espaço onde ficava a sua mercearia, uma construção anexa à sua residência. Ela estima o prejuízo em R$ 5 mil. Maria Toledo garante que nunca passou pela sua cabeça que fosse acontecer algo do tipo na sua propriedade.

— Eu aluguei para um conhecido instalar uma lanchonete que vende xis. Tinha deixado tudo lá. Freezers, geladeira, mesas, balcão de tortas. Não imaginei que a água chegaria na minha casa. Na única vez que chegou perto, em 2008, a água ficou a 2 cm de entrar pela minha janela. Dessa vez, ela invadiu e eu fiquei com água pela cintura. Se soubesse que chegaria, tinha tirado tudo do primeiro andar da casa e da nossa construção do lado — afirma, apontando para a sua antiga mercearia, onde os inquilinos se estabeleceriam.

A incredulidade demonstrada por Maria Rosa se espalha pela região. A prefeitura de São Leopoldo e o Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos já disseram que nada parecido aconteceu desde 1965. E, apesar do sol forte, moradores ainda lutam para minimizar os estragos. Em bairros como Feitoria e Scharlau, a água passava de um metro de altura em diversas ruas. Com carros inundados e amarrados a pilares, barcos eram os meios de locomoção mais vistos em ação. 

Moradora da mesma rua que a “comadre” Maria Toledo, a dona de casa Celita da Fontoura, 54, ouviu o alerta da Defesa Civil um dia antes da enchente chegar, o que ocorreu na última terça-feira. No entanto, ela e a família não quiseram sair de casa por acharem que era um “aviso desnecessário”.

— Estou aqui há 20 anos. A água chegava no máximo no meu pátio em algumas situações, mas nunca passou disso. Eu achei que era exagerado esse alerta de ter que sair de casa porque nunca tinha ocorrido uma enxurrada no lugar onde eu moro, e acabei ficando. Na madrugada de terça foi um horror. Perdi tudo — disse, emocionada, a mulher.

A Associação de Moradores do Bairro Feitoria contabiliza 300 famílias que tiveram que sair de suas residências. Em São Leopoldo, o bairro São Borja, na borda da avenida Imperatriz Leopoldina, também teve centenas de famílias desalojadas. O 19º Batalhão de Infantaria Motorizada de São Leopoldo, o 16º, da mesma cidade, e o 13º, de Cachoeira do Sul, mobilizaram um efetivo de 100 soldados para ajudar no resgate e organizar as doações nos centros comunitários onde algumas famílias estão abrigadas.
Fonte: Zero Hora

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