Havia uma procedente expectativa sobre como o coitado do
produtor receberia um banho de leite diante do frio de 9ºC que se abatia ao
final da tarde de terça-feira em Esteio.
A honra é reservada ao
vencedor do concurso leiteiro e, por isso, o produtor Itamar Tang e a filha
Gabriela enfrentaram a tradição meio a contragosto, mas com algum
desprendimento.
Receberam uma enxurrada
de 30 litros sobre o lombo, não sem antes Gabriela, 12 anos, esperta,
providenciar uma capa de chuva.
Para aliviar a situação,
o dito leite estava morno. O problema é que, um minuto depois, não há humano
que suporte permanecer com a roupa molhada.
— Já estamos acostumados
com o banho — disse Itamar, sem querer se gabar, mas porque sua propriedade, a
Granja Tang, de Farroupilha, levantou este ano o terceiro concurso consecutivo.
O banho de leite não é
exatamente de leite. Para não pegar mal por desperdício, os produtores utilizam
um mínimo de leite, corante e muita água. O importante é manter o simbolismo da
reverência à produção abundante.
A vaca vencedora, a
Cometa, uma estreante no parque Assis Brasil, produziu 75 litros de leite em
cinco ordenhas. Sua produção em Esteio é a mesma de casa. Na granja, o leite é
mantido em um resfriador, antes de ser recolhido na propriedade pela indústria.
Da fábrica, após a pasteurização e o envasamento, o leite chega a uma
distribuidora, que se encarrega de encaminhá-lo ao supermercado, à padaria,
enfim, ao comércio.
— O caminho do leite até
a mesa das pessoas começa lá na hora da ordenha, que hoje é 90% mecânica —
conta Jorge Rodrigues, produtor de Santo Augusto e diretor da Associação dos
Criadores de Gado Holandês do RS (Gadolando).
Mesmo o pequeno produtor
lá do interior da Serra faz ordenha mecânica. Geralmente a ordenhadeira é de
pequeno porte e custa cerca de R$ 3 mil, mais os R$ 2 mil do resfriador. Esse
gasto garante higiene e evita perda de tempo, como à época da ordenha manual.
Vaca de concurso tem de
mostrar serviço. Começa na Expoleite, em maio, e fecha o ciclo na Expointer.
Quando o animal é escolhido o melhor da raça no julgamento e, ao mesmo tempo,
levanta o concurso leiteiro, dá-se a ele o título de Suprema Exceleite, uma
derivação bem-humorada criada pelos produtores de holandês. O julgamento da
raça ocorre hoje em Esteio.
Já ontem foi dia de
trabalho para as estrelas do gado jersey, cujo julgamento ocorreu em meio ao
pavilhão do gado leiteiro. Numa pista aconchegante, com os produtores
acomodados em volta, os jurados apontaram os melhores da raça, conhecida pela
qualidade do leite, com alto grau de proteína e maior valor de mercado.
— Só não temos banho de
leite. Está muito frio — brincou Cláudio Nery Martins, presidente da associação
dos criadores da raça jersey no Estado.
Fonte: Zero Hora