Carlos Adenir Holz, 41 anos, teve de deixar o trabalho nos Correios devido à dependência químicaFoto: Fernando Gomes / Agencia RBS
Ao conquistar uma vaga
como funcionário dos Correios, Carlos Adenir Holz pensava ter encontrado o
caminho para uma vida confortável. Já fazia planos para virar supervisor quando
teve de deixar o trabalho devido à dependência das drogas e passou a fazer parte
de um contingente que cresce a ritmo galopante no Rio Grande do Sul.
O número de gaúchos afastados do serviço em razão do uso de entorpecentes quase triplicou nos últimos seis anos, apresentando um acréscimo de 179% na concessão de auxílios-doença pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
O drama de Holz, que
recebe o benefício por não ter condições de retomar suas atividades, foi vivido
por outros 1.343 trabalhadores em 2006. No ano passado, a multidão de homens e
mulheres que trocaram o cartão-ponto pela boca de fumo chegou a 3.748 — 2,8 vezes
mais. Essa epidemia tóxica que se alastra nos escritórios e fábricas repete um
fenômeno nacional. Em todo o país, no mesmo período, esse número praticamente
triplicou e chegou a mais de 31 mil dependentes químicos que penduraram o
crachá e recorreram ao INSS no ano passado.
Isso é considerado por
especialistas em saúde pública e direito previdenciário um flagelo social por
diferentes razões. Além de colocar a vida do usuário em risco, compromete seu
desenvolvimento profissional e sobrecarrega as contas já combalidas da
previdência — que soma déficit de R$ 21 bilhões de janeiro a abril. O INSS não
calcula o peso financeiro que esses afastamentos representam, mas, levando-se
em consideração que o valor médio do benefício pago por doença é de R$ 965, apenas
um mês de pagamento de todos os beneficiados no ano passado somaria mais de R$
3,6 milhões.
Entre as explicações
para o fenômeno está a proliferação das drogas nesse período, principalmente
daquela que consumiu os sonhos profissionais de Holz, hoje com 41 anos: o
crack. O servidor dos Correios enfrentava problemas com a cocaína desde a
adolescência, mas sua ruína laboral foi determinada pelo contato com o pó
transformado em pedra.
— O trabalho era a minha
vida. Estava fazendo planos para virar supervisor quando o crack levou tudo o
que eu tinha, trabalho, família, casa, tudo — conta.
Desde quando ingressou
no serviço, em 2001, se afastou do trabalho em 2004, depois teve recaídas a
partir de 2008. Durante esse intervalo, chegou a dar palestras de prevenção ao
uso de drogas, mas não conseguiu se manter fiel ao próprio discurso. Há mais de
dois anos, depende do auxílio-doença e circula por clínicas de desintoxicação e
fazendas de recuperação. Nos últimos três meses, está tentando superar o vício
na Comunidade Terapêutica Acolher, de Gravataí.
— Além do crack, que tem
um impacto brutal, há outras drogas em tendência de alta como cocaína e os
tranquilizantes, que também são muito incapacitantes — analisa o psiquiatra e
membro do conselho consultivo da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e
Outras Drogas (Abead) Carlos Salgado.
Fonte: Zero Hora