Enquanto a Câmara de Vereadores de Santa Maria
era ocupada por manifestantes e parentes de vítimas da Kiss e o Fórum realizava
o segundo dia de depoimentos do processo criminal, no Centro, a Associação dos
Familiares das Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM)
organizava-se, em frente à Catedral Metropolitana, para marcar os cinco meses
de um dos capítulos mais tristes já vistos no Brasil: o incêndio da Kiss, seus
242 mortos e mais de 600 feridos.
Se na Câmara uma das reivindicações
era justamente relacionada ao caso Kiss, na Avenida Rio Branco, pais, irmãos,
avós, amigos, entre outros, davam início, às 17h45min, a uma caminhada pelo
centro histórico de Santa Maria em direção à Basílica da Medianeira. A
movimentação começou tímida, com cerca de 50 pessoas, mas ganhou força ao longo
do percurso, chegando a ter mais de 700 participantes.
No Viaduto Evandro Behr, 242 pessoas
se deitaram no asfalto em referência ao número de mortos. Munidos de balões,
que continham em seu interior sementes de árvores nativas, familiares iniciaram
exatamente às 18h a tradicional homenagem: o minuto de barulho. Com as palmas,
os balões foram soltos, para que levassem as sementes e, em algum lugar, elas
germinassem.
O ato simbólico foi repleto de
emoção, consternação e reflexão — cerca de mil pessoas acompanharam,
aplaudiram, e, mais uma vez, relembraram a dor daquela fatídica madrugada do
dia 27 de janeiro de 2013.
Após o ato, familiares e amigos
seguiram em direção à Rua do Acampamento. Funcionários das lojas, nitidamente
emocionados, saíram nas portas para aplaudir a passeata silenciosa.
Em uma loja, as funcionárias Janaina
Almeida e Ana Lúcia Santos, ambas de 23 anos, não seguraram as lágrimas ao
verem a mãe de Lucas Dias de Oliveira, 20 anos, levantar o cartaz com o retrato
do rapaz. Eles eram colegas no local.
— É uma saudade que não tem tamanho.
Só pedimos justiça para todos — dizia Janaina.
Na frente da caminhada estavam duas
sobreviventes: Jarlene Moreira, que também perdeu o marido, e Fátima
Nascimento. Elas tinham dificuldade de se locomover. Mesmo assim, não deixaram
de participar do ato de homenagem.
— Quero chamar a atenção para o que
foi essa tragédia e pedir justiça por meu marido, por mim, e por todos que
foram atingidos pela tragédia — lamentou Jarlene.
Na linha de frente estava o
presidente da AVTSM, Adherbal Alves Ferreira. Ele definiu a caminhada como
positiva, apesar de esperar mais público. A pequena multidão percorreu a Rua do
Acampamento e foi em direção à Avenida Medianeira, onde, na Basílica, foi
realizada um culto ecumênico. Em todos os momentos da caminhada, carros
buzinavam e moradores dos prédios aplaudiam a caminhada.
— É claro que esperávamos mais gente.
Mas esse foi um dos atos mais lindos que fizemos até agora. E afirmo, não vamos
parar. Os seis meses também serão lembrados, bem como os demais dias 27. Nem
que eu seja o único a homenagear — garantiu Adherbal Ferreira.
Fonte: DIÁRIO DE SANTA MARIA