Incertezas sobre as economias do Brasil e do mundo
continuam produzindo reflexos no câmbio – nesta quinta-feira o dólar fechou com
baixa de 0,97%, negociado a R$ 2,133, um dia após chegar ao maior valor em mais
de quatro anos: R$ 2,1540. Entre empresários e consumidores crescem as dúvidas
se as recentes medidas adotadas pelo governo para evitar uma alta ainda maior
da moeda norte-americana vão surtir efeito.
A escalada do dólar nas duas últimas semanas atinge
setores da economia gaúcha de diferentes maneiras. Enquanto indústrias
exportadoras, como moveleira e calçadista, comemoram o aumento de
competitividade no cenário internacional, empresários que precisam de
matéria-prima vinda do Exterior para produzir reclamam do aumento de custos.
– Metade do trigo que o país usa vem de fora e os
nossos estoques vão durar dois meses. Se a moeda permanecer nesse patamar por
mais tempo, o valor do pão também sobe. Com preços maiores, vendemos menos –
diz Alexandre Pereira, presidente Associação Brasileira da Indústria da
Panificação e Confeitaria.
Produtores rurais sentem os dois lados da oscilação
da moeda. São melhor remunerados pela produção vendida ao Exterior – como já
ocorre com a soja –, mas precisam pagar mais caro por fertilizantes e
defensivos agrícolas, em grande parte importados.
– O dólar subindo é uma melhora significativa no
setor calçadista. Mas não dá para dizer que estamos satisfeitos porque é um
cenário de incerteza – afirma Heitor Klein, presidente da Associação Brasileira
das Indústrias de Calçados (Abicalçados).
Para quem está de malas prontas rumo ao Exterior, a
perspectiva também é incerta. A fim de evitar a fuga de clientes, algumas
agências agiram depressa e bancaram congelar o dólar a R$ 2. Para quem vai
viajar, especialistas recomendam comprar dólares aos poucos, já que é difícil
projetar qual será o comportamento da moeda.
Governo tenta segurar
desvalorização do real
Tanto o Ministério da Fazenda quanto o Banco
Central têm adotado medidas para suavizar a alta da moeda. Na quarta-feira, o
ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou mais uma medida para conter a alta
da cotação, diminuindo as barreiras à venda de dólares. Esta foi a segunda
intervenção em menos de 10 dias. No último dia 4, Mantega isentou o imposto
cobrado sobre as aplicações de estrangeiros em renda fixa no Brasil.
A valorização da moeda americana preocupa o
governo, que teme um aumento da inflação. Juros mais altos e dólar mais caro
também tornam a bolsa menos interessante. Os mecanismos utilizados pelo governo
brasileiro, no entanto, tem efeito limitado.
A alta do dólar ocorre em vários mercados
emergentes, causada principalmente pela indicação de que o banco central dos
Estados Unidos reduzirá os estímulos monetários que têm impulsionado a economia
americana nos últimos anos. Com a diminuição do volume de dólares em
circulação, a moeda fica mais cara, o que afeta as cotações em todo o mundo.
Causas e efeitos
A alta recente da moeda americana é uma realidade
em todos os mercados emergentes e não apenas no Brasil.
A pressão é reflexo da expectativa de que o Federal
Reserve – o banco central dos Estados Unidos – deixe de injetar dólares na
economia, o que faria a cotação da moeda americana subir em relação às demais.
A possível mudança de direção na política monetária
americana, que significa deixar de colocar dólares em circulação, pode atrair
para lá recursos que estão aqui.
Tanto o Ministério da Fazenda quanto o Banco
Central (BC) têm recorrido a diferentes medidas para tentar acalmar os ânimos
do câmbio no país.
O BC atua por meio de operação conhecida como swap
cambial. O efeito é o mesmo de colocar dólares no mercado. Até agora, já foram
negociados US$ 4,37 bilhões.
Enquanto isso, a equipe econômica do ministro Guido
Mantega zerou a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) em investimentos
estrangeiros em renda fixa no Brasil e também em posições vendidas no mercado
de derivativos cambiais – tentativas de tornar a entrada de dólares mais
atraente. Todas essas medidas, no entanto, têm efeito limitado.
Fonte: ZERO
HORA