quarta-feira, 3 de julho de 2013

Primeiro barco solar a dar a volta ao mundo é transformado em laboratório em alto mar

Quando conclui sua volta ao mundo em 2012, o Turanor Planetsolar poderia ter dado por encerrados seus grandes feitos. O primeiro barco a energia solar a realizar a façanha, com 510 metros quadrados de células fotovoltaicas e oito toneladas de baterias de íon-lítio, no entanto, está se transformando em uma embarcação científica, pelo menos durante este verão.
O barco, um catamarã de 100 pés e US$17 milhões que foi projetado por um aventureiro suíço e bancado por um empresário alemão, cruzará a Corrente do Golfo estudando o papel dos aerossóis atmosféricos (partículas suspensas na atmosfera que podem impactar a formação de nuvens, o reflexo da luz solar e outros processos) e do fitoplâncton na regulação do clima, sob o comando de Martin Beniston, um climatologista da Universidade de Genebra.
O cruzeiro de pesquisa, com cinco tripulantes e até quatro pesquisadores a bordo, começou em Miami, há algumas semanas, e fará uma parada em Terra Nova e na Islândia, para monitorar a corrente do nordeste. A viagem deve terminar em Bergen, na Noruega, em agosto.
Na semana passada, o barco parou na cidade de Nova York por alguns dias a caminho do norte (foto). A embarcação de fibra de carbono e seu grande deque, dominado pelo conjunto fotovoltaico, pareciam um pouco deslocados em meio aos iates de luxo e outros barcos mais convencionais ancorados na marina perto do distrito financeiro da cidade.
De certa forma, o barco está equipado para pesquisas. Sendo totalmente alimentado pelo sol – as células solares de alta potência carregam as baterias que alimentam motores elétricos conectados às duas hélices da embarcação –, ele não produz emissões de dióxido de carbono ou outros gases que possam contaminar amostras do ar. E o barco não tem problemas em ir devagar, se necessário, enquanto coleta amostras da água – a velocidade média é de 5 nós.
– Mas ele não é uma embarcação de pesquisa – ressaltou Bastiaan Ibelings, ecologista microbiano da Universidade de Genebra que está trabalhando no projeto. O catamarã precisou ser equipado com instrumentos de pesquisa, incluindo uma "caixa de balsa", criada originalmente para balsas no Mar Báltico, que registra constantemente temperatura, salinidade e outras características da água. Ele também possui uma "caixa biológica", criada pelo departamento de física aplicada da universidade, que usa um laser para analisar o número e os tipos de aerossóis em amostras de ar.
Tripulantes organizam painéis solares do Planetsolar (Foto: Jabin Botsford/NYT)
A questão dos aerossóis gerados pelo oceano é algo relativamente novo na ciência do clima, afirmou Beniston.
– Acreditamos que o oceano deva ser um colaborador bastante grande de aerossóis através da ação das ondas e do vento – disse ele. – Mas seu papel exato ainda está aberto a discussões – acrescentou.
A Corrente do Golfo é uma das correntes oceânicas mais estudadas do mundo, mas o plano de Beniston é examinar algumas de suas estruturas em menor escala. Estas incluem os redemoinhos, onde costuma haver maior afloramento de águas mais frias e profundas do que a própria Corrente do Golfo. Um objetivo é examinar se diferentes condições da água produzem tipos diferentes de aerossóis. Com sua pesquisa de plânctons, Ibelings quer descobrir se a condição da água em redemoinhos resulta em menos ou mais diversidade biológica do que em outros locais.
 
Embaixador da energia solar
As modificações ao catamarã – que também incluíram novas hélices e o remodelamento dos aposentos para oferecer espaço de trabalho aos pesquisadores – foram realizadas em um estaleiro francês depois que o barco terminou sua circunavegação de 19 meses e 60 mil quilômetros, em maio de 2012. Essa viagem pretendia demonstrar mais as capacidades gerais da energia solar do que a praticidade de barcos movidos à energia solar (afinal, embarcações alimentadas eficazmente por energias alternativas já existem há séculos – elas se chamam veleiros).
– Ele é um embaixador da energia solar – explicou Gérard d'Aboville, atual comandante do Planetsolar. – Mas eu teria de ser louco para dizer que precisamos pedir 20 barcos como este.
Além dos problemas de custo e velocidade, o Planetsolar apresenta alguns desafios únicos. Além do vento, ondas e corrente, d'Aboville precisa analisar constantemente a quantidade de luz solar atingindo as células fotovoltaicas, com o objetivo de manter as baterias as mais carregadas possíveis – para o caso de longos períodos com tempo nublado (totalmente carregadas, elas podem alimentar o barco por cerca de 72 horas).
Ele possui um laptop onde recebe mapas detalhados (e constantemente atualizados) da agência nacional meteorológica da França, a Météo-France, mostrando o potencial ganho solar (calculado através da cobertura de nuvens e outros fatores). Se houver uma nuvem no horizonte, ele pode decidir contorná-la, imaginando ser possível ganhar mais energia com o céu limpo do que perder com o desvio.
– Tenho esse novo parâmetro do sol, e isso torna a vida interessante – concluiu ele.

fonte: ZERO HORA

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