Com 40% do corpo queimado após uma discussão com o namorado em
Biguaçu (SC), a gaúcha Pâmela Sabrina da Silva Padilha, 17 anos, foi até Goiás
para tratar das sequelas, mas morreu no hospital, sem ver o suposto agressor
ser punido.
Natural de Cruzeiro do
Sul, no Vale do Taquari, a adolescente conheceu o namorado aos 16 anos, quando
foi morar com a mãe, Silvana da Silva Hoffmann, 33 anos, no município
catarinense. Ela lembra que eles começaram a conversar em um restaurante onde
Pâmela trabalhava. Para a adolescente, Thiago da Silva Flores, 28 anos, se
apresentava como policial.
Tanto a família da
garota, quanto a de Flores concordam que o relacionamento era complicado.
Agressões de ambos os lados são recordadas pelas mães. O ápice teria corrido em
agosto do ano passado, quando uma discussão sobre o fim do namoro terminou com
os dois queimados. No perfil do Facebook, Pâmela escreveu sobre o ocorrido:
"me levantei para me arrumar e o álcool estava debaixo da cama, quando eu
parei de frente a mesa onde tinha as minhas coisas, ele veio muito rápido,
segurou meu braço e jogou álcool em mim, e logo riscou o isqueiro na ponta de
meus cabelos".
Pâmela teve 40% do corpo
queimado e perdeu os movimentos do pescoço. Thiago também ficou com queimaduras
no braço e no tronco. Em busca de ajuda após várias internações, a adolescente
viu na história da fisioterapeuta Cristina Lopes Afonso, 48 anos, uma forma de
acelerar a recuperação. Vereadora em Goiânia, capital de Goiás, Cristina foi
queimada pelo namorado aos 19 anos. O caso ganhou repercussão nacional, pois o
homem foi condenado em júri popular. Foi por meio da televisão e da internet
que Pâmela chegou até a vereadora que trabalha em um núcleo de proteção aos
queimados e luta pelos direitos da mulher.
— Foi a primeira vez que
vi um caso com tanta gravidade. Quis ajudar pelo risco de morte e pela questão
da agressão. A família se envolveu muito com o tratamento e ninguém foi para
frente com o inquérito policial — comenta Cristina.
No final de junho,
Pâmela passou por cirurgias para descolar o queixo do peito. Cerca de 10
paradas cardíacas agravaram o quadro clínico e, na sexta-feira, 28 de junho, a
adolescente morreu. Trazido de carro de Goiânia até Cruzeiro do Sul, o corpo
foi enterrado na terra natal, onde ela foi criada pela avó, na segunda-feira,
1º de julho.
Jovem apontado pela polícia nega agressão
Principal suspeito de
ter começado a agressão, Thiago da Silva Flores, 28 anos, nunca foi preso por
este caso. Conforme a delegada Ana Silvia Serrano Ghisi, que trabalhava na época
na 6ª Delegacia da Polícia Civil de Florianópolis, o inquérito foi encerrado em
dezembro do ano passado — ele foi indiciado por lesão corporal gravíssima.
— A morte dela
provavelmente não vai interferir no processo. Como ele prestou depoimento,
estava em local fixo, não entrou em contato com a vítima, se apresentou sempre
que foi chamado, não foi pedida a prisão dele — explica a delegada.
Quase um ano depois da
discussão do casal, a liberdade de Thiago continua autorizada pela Justiça e
ele vive com a família em Canoas, na Região Metropolitana. O processo tramita
em segredo no Juizado de Violência Doméstica de Florianópolis e há audiência
marcada para o final do ano.
— Ele chora desesperado
e diz para mim que ele não vai ser preso, porque não queimou ela — conta
emocionada, Teresinha da Silva Padilha, mãe de Thiago.
Conforme a família, ele
não é policial e sofreria com depressão e síndrome do pânico. Em outra ocasião,
teria ficado preso por seis meses, ao se envolver em uma briga em Capão da
Canoa, no Litoral Norte, onde baleou três parentes de uma outra namorada. Ao
procurar por Thiago, a reportagem de Zero Hora foi informada pela mãe e pelo
irmão de que ele não estava em casa e não tinha hora para retornar.
Para a mãe de Pâmela, a
prisão de Thiago não irá alterar a dor que sente por ter perdido a filha tão
nova.
— Ele é uma pessoa sem
caráter, um monstro, ninguém nunca vai mudar isso. O que ele tem que passar
será julgado tanto na lei do homem, quanto na lei de Deus. Acho que ele tem de
ser preso para pagar pelo que fez, mas no meu coração não muda nada ele estar
preso, ele já arrancou a vida da minha filha — desabafa Silvana.
FONTE: ZERO HORA