quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Para evitar saques, moradores vigiam as casas de bote em Alvorada


Munido de lanternas e sinalizando com luzes e gritos, um grupo de pelo menos oito moradores da Vila Americana, em Alvorada, percorre em botes, todas as noites, as ruas alagadas. Ameaçados pelos "piratas da enchente", eles criaram uma patrulha de proteção.

Desde o início da cheia na região, há dez dias, pelo menos dez casas foram saqueadas.

- Uma senhora foi obrigada a abandonar a casa e não deu tempo de levar nada. Quando voltou, no outro dia, se desesperou. Tinham levado até os fios da casa - relata um morador de 39 anos.

O caso, no final da Rua Americana - uma das mais atingidas pelo alagamento -, é considerado pelos patrulheiros o mais grave. Mas os relatos de bandidos se aproveitando das casas vazias e da dificuldade de acesso se acumularam nos últimos dias.
Bandidos usam barcos
Os criminosos chegam à Vila Americana por água, em barcos motorizados, vindos de Cachoeirinha ou do Passo da Figueira. Com o alagamento, o Rio Gravataí e o Arroio Feijó criaram canais que ligam ao fundo da vila.

- Os vizinhos começaram a nos procurar comentando que, na madrugada, chegaram a ouvir até 30 tiros naquele breu. É um salve-se quem puder. Alguém tinha que fazer alguma coisa - desabafa o taxista Cláudio Silva dos Santos, 42 anos, um dos líderes do grupo.

A Brigada Militar foi chamada nos primeiros casos de tiros. Mas, sem uma embarcação, os PMs pouco podem fazer.
Casa virou posto de vigilância
Cláudio e outros vizinhos se cotizaram para comprar um bote inflável e roupas de pesca para andar no terreno alagado. Faz dez dias que ele não trabalha no táxi.

Outros moradores, que já tinham barcos, passaram a se revezar. Uma casa de dois pisos, na esquina da Rua Marquês do Pombal, nas madrugadas vira guarita. Uma lomba, na Rua Doze de Maio, é o segundo ponto de observação.
Comunicação por celular
- Se alguém vê uma movimentação, liga para o pessoal nos barcos. Quando nos aproximamos, fazemos sinal com a lanterna e damos um grito. Se a pessoa não responde, certamente não está aqui, na madrugada, para alguma coisa boa - define Cláudio.
Ações diferentes da Brigada

A Brigada de Alvorada não tem um plano para agir contra os piratas.

- A água já está baixando. Acredito que, em um dia, já será possível o acesso a pé Não vejo necessidade de um barco nesse momento - afirma o comandante do 24º BPM, tenente-coronel Rogério Maciel.

Ele garante que todos os chamados nesse período foram atendidos, sem registrar tiroteio ou saques a residências.

Em São Leopoldo, a reação da BM foi diferente. Durante uma semana, até o domingo passado, PMs do Pelotão de Operações Especiais (Poe) do 25º BPM patrulharam os bairros Feitoria e Camélias - cobertos pela água - com um barco e um jet ski, cedidos pelos bombeiros.
Tiros na madrugada
As patrulhas começaram depois dos primeiros relatos de saques. Foram os filhos de Ana Patrícia Oliveira Valdez, 41 anos, que primeiro se aventuraram em um barco à noite. Foram corridos a tiros pelos criminosos, mas não desistiram. Foi o sinal para que mais moradores se unissem às patrulhas.

- Aqui, um ajuda o outro, sempre. Em 20 anos, já perdemos muita coisa nas enchentes. Agora que moramos em um trecho que não alaga, não podemos deixar os outros em dificuldade - diz Ana.

Os patrulheiros já conhecem o modo de agir dos piratas. Ao se aproximarem das casas, os ladrões dão sinais com lanternas, gritam e até dão tiros. Se ninguém responde, chegam para o saque.

Nos últimos dias, porém, foram interceptados pelo menos duas vezes. Um quarteto foi perseguido e dois suspeitos, espancados. Eles confessaram terem vindo de Cachoeirinha.
De dia, missão é ajudar
Em outra ocasião, moradores armados teriam trocado tiros com os bandidos.
Se à noite a missão é de vigília, de dia é de ajuda aos flagelados. E, de quebra, os patrulheiros conseguem controlar eventuais "olheiros" dos piratas que chegam na vila à tarde.
Fonte:DIÁRIO GAÚCHO

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