Na ilha italiana de
Giglio, o cruzeiro encalhado deitado sobre seu lado esquerdo lembrava o mundo,
desde janeiro do ano passado, do vexaminoso naufrágio que matou 32 pessoas.
Ontem, no entanto, uma
operação de 600 milhões de euros permitiu que, em 20 horas, o Costa Concordia
fosse reerguido — para ser rebocado rumo ao desmanche.
Os trabalhos para endireitar o cruzeiro começaram pela manhã
e terminaram às 4h locais (23h de Brasília), e envolveram uma manobra delicada:
cabos de tensão e caixões d'água foram instalados a bombordo do navio e foram
ligados a torres fixas na terra, com uma base de cimento dando sustentação à
estrutura do navio. Os 24 cabos, puxados por macacos hidráulicos, recolocaram o
navio em posição normal.
— Superamos a etapa mais importante, sem dúvida a mais
difícil, não tínhamos um plano alternativo em caso de fracasso — comentou
satisfeito o engenheiro sul-africano Nick Sloane, que dirigiu a operação de
parbuckling, como é chamado o inédito processo.
O lado direito do navio, corroído pela água do mar, dá a
dimensão do desastre: do lado de fora, musgo e ferrugem. Dentro, cadeiras
amontoadas, cortinas rasgadas e pedaços de móveis. Depois, uma equipe de
mergulhadores começará a procurar os restos mortais dos dois desaparecidos após
o naufrágio: uma passageira italiana e um camareiro indiano.
Agora, a equipe de engenheiros volta sua atenção à
flutuação: caixões de água serão instalados a estibordo para contrabalançar o
peso, e os dois lados serão esvaziados de água para que a embarcação volte a
flutuar.
"Capitão covarde" aguarda julgamento
Enquanto isso, o símbolo do naufrágio aguarda julgamento.
Francesco Schettino, o "capitão covarde" que tentou abandonar o navio
tão logo houve o choque contra os recifes de Giglio, pode ser condenado a até
20 anos de prisão, mas seu julgamento por homicídio e negligência foi adiado em
julho.
Outros cinco oficiais acusados receberam penas de 18 meses
até 2 anos e 10 meses de prisão após se declararem culpados diante da corte
pelos mesmos crimes que Schettino.
E agora?
Depois de um ano e meio de cálculos,
engenheiros conseguiram endireitar o navio. Agora, seu destino é uma incógnita
- O navio não será desmontado até depois da primavera, que
começa em março no Hemisfério Norte, segundo Nick Sloane, o engenheiro que
comandou a operação.
- O desmanche do navio virou uma questão política: alguns
estaleiros disputam o trabalho, que criará centenas de empregos na região que
recebê-lo: Civitavecchia, na região de Lazio, Piombino, na Toscana, Palermo,
capital da Sicília, e Nápoles, capital da Campânia.
- Além de procurar os corpos dos dois desaparecidos, o
indiano Russell Rebello e a italiana Maria Grazia Trecarichi, mergulhadores
também tentarão recuperar bens pertencentes aos passageiros do cruzeiro que
ficaram nas cabinas.
Fonte: Zero Hora