sexta-feira, 20 de abril de 2012

Mulher atropelada em Alvorada morre por falta de atendimento médico

Aline e Vinícius Strevenski não se conformam com a morte da mãe Foto: Mateus Bruxel / Agencia RBS

A falta de leitos na rede hospitalar da Capital pode ter sido a causa de mais uma morte na fila do Sus. No começo da noite de quarta-feira, a diarista Erta Marisa Strevenski, 50 anos, foi internada com fratura exposta no joelho direito, esmagamento de um dos rins e traumatismo craniano no Hospital de Alvorada. Como o caso era complexo, os médicos tentaram transferi-la para hospitais da Capital, mas não havia vagas. Enquanto os familiares lutavam para encontrar um leito, a paciente morreu.
No domingo, Gleci da Silva Geraldo, 58 anos, morreu no Hospital Conceição durante a espera por atendimento, tendo passado parte do tempo deitada no chão ou sentada em cadeiras na Emergência.
- Vítima de um acidente inusitado
Ao contrário de Gleci, que sofria de câncer, Erta foi vítima de um acidente inusitado. Minutos depois de sair de um minimercado, na Rua Primavera, no bairro de mesmo nome, em Alvorada, a diarista foi atingida por um Palio desgovernado e sem motorista. Segundo a filha da vítima, Aline Strevenski, 29 anos, o condutor teria estacionado o carro em uma lomba, sem puxar o freio de mão.
- Há dois meses, ela recebeu a notícia da cura de um câncer no pâncreas, após seis anos de tratamento no Hospital de Clínicas, e agora acontece isso-lamentou Aline.
Socorrida e ainda consciente, Erta foi levada para o hospital, mas o quadro se agravou.
Recurso à Justiça
O médico Fábio Germany ligou para o Samu estadual fazer a transferência para o HPS ou para o Hospital Cristo Redentor, referências no atendimento de traumatologia na Capital, mas nenhum deles tinha leitos. Outros hospitais teriam sido contatados, também sem sucesso. O médico, então, recomendou que ingressassem na Justiça. Não houve tempo.
O sepultamento foi ontem no Cemitério Municipal São José Operário. A família registrou ocorrência na 1ª DP e pretende ingressar na Justiça contra o dono do veículo e contra os hospitais.
O que dizem os hospitais
- Samu Estadual - Afirma que fez contato com o HPS e o Cristo Redentor, mas não havia leitos
- HPS - Disse que a regulação deveria ser feita pelo Samu Estadual, mas não confirmaram se haviam sido contatados
- Cristo Redentor - Não retornou a ligação da reportagem
- HPS de Canoas - Afirma que não recebeu nenhuma ligação da família e não é referência para pacientes de Alvorada
- Hospital de Viamão - Não retornou a ligação da reportagem
- São Lucas da Puc - Não retornou a ligação da reportagem
- Mãe de Deus - Recebeu uma ligação, confirmou a existência de leito, mas disse que o familiar queria falar com o médico, o que não é permitido
Passo a passo de uma drama
17h de quarta-feira
- Erta sai de casa e compra açúcar num minimercado, e mamão e cigarros em outro. Percorre um trajeto de cerca de 500m.
17h20min
- Após sair do segundo estabelecimento, ela é atingida pelas costas por um Fiat Palio vermelho desgovernado, na Rua Primavera, no bairro de mesmo nome em Alvorada.
- O veículo passa por cima da vitima e prossegue cerca de 600m até ser parado por moradores. Segundo parentes da vítima, o motorista havia saído do carro sem puxar o freio de mão.
- Ainda consciente, Erta é socorrida pelo Samu, com fratura exposta do joelho direito e um corte no lado direito da cabeça.
18h03min
- A paciente ingressa no Hospital de Alvorada. Além da fratura no joelho, os médicos confirmam o traumatismo craniano e esmagamento de um dos rins.
- Diante da gravidade do caso, é necessária a transferência para a Capital, e o médico faz o pedido para o Samu Estadual, que diz ter entrado em contato com o Cristo e o HPS, sem resultado.
18h35min, 19h e 19h50min
- Preocupado, o cirurgião-geral Fábio Germany liga três vezes para o Hospital Cristo Redentor na tentativa de conseguir leito, mas não há vagas disponíveis. Também são feitas ligações para o HPS da Capital, o HPS de Canoas e o Hospital de Viamão.
20h
- O médico então comunica, por escrito, à família que a paciente corre risco de morte e que precisa fazer uma cirurgia de urgência. Recomenda que ingressem na Justiça para garantir leito.
21h
- Enquanto o advogado prepara petição (pedido), os filhos de Erta ligam para os hospitais São Lucas da Puc e Mãe de Deus, na Capital. Os hospitais teriam o leito, mas não neurocirurgiões disponíveis para fazer o procedimento.
21h45min
- Erta tem a primeira parada cardiorrespiratória e é reanimada.
22h10min
- A paciente tem a segunda parada, mas não resiste.
22h25min
- Confirmada a morte
Fonte: DIÁRIO GAÚCHO

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