Cenário de assassinatos, tiroteios e desaparecimentos, a Colônia
Penal Agrícola, em Venâncio Aires, tornou-se conhecida por abrigar apenados que
ostentam armas na cintura, falam ao celular como se estivessem em suas casas e
pernoitam com prostitutas.
Há
20 dias, porém, uma descoberta revela que o descontrole atingiu níveis
inimagináveis: presos armazenavam dinamite – utilizadas por quadrilhas que
aterrorizam o Estado.
Uma
inspeção encontrou dois quilos do artefato em um galpão. A Justiça proibiu o
ingresso total de presos por falta de segurança, mas a colônia ainda mantém 120
apenados, ligados a duas facções – Os Bala na Cara e Abertos Sem Lei.
–
O fato de encontrar dinamite não surpreende. Faz parte do pacote de
irregularidades – diz o juiz Sidinei Brzuska, da Vara de Execuções Criminais da
Capital.
Há
uma subversão da ordem. O controle estaria nas mãos dos presos. Em vantagem
numérica – 120 detentos para sete guardas por turno, quando o ideal é 28 – os
apenados usam armas, inclusive, deixando revólveres e pistolas atrás das
goleiras quando vão para o campo de futebol.
Autoridades dizem que
presos "plantam gente"
A
procedência é investigada pela Delegacia de Repressão a Roubos.
– Não há dúvida sobre a finalidade da dinamite (ataques
a bancos), mas está difícil descobrir a quem pertence. São muitos
presos com muitas regalias no semiaberto – afirma o delegado Joel Wagner.
A
utilização dos 99 hectares da Colônia é ínfima. No pátio, um trator apodrece. O
que os apenados produzem é insuficiente para a subsistência: o Estado se obriga
a comprar batatas, legumes e frutas para alimentar os detentos. O
estabelecimento simboliza o fracasso da política de reinserção de apenados em
colônias agrícolas, idealizada nos anos 1940.
–
Lá (na Colônia), os "agricultores" plantam gente – ironiza uma
autoridade da Justiça que conhece bem o local.
A
frase se refere às execuções que se acentuaram nos últimos anos e provocaram
interdições. Desde janeiro de 2010, 18 apenados foram assassinados – outros
cinco estão desaparecidos com poucas chances de estarem vivos – em albergues
sob jurisdição da Vara de Execuções Criminais (VEC) da Capital.
Deste
total, 11 estavam em Venâncio Aires, a maioria foi mutilada e enterrada em
covas rasas no entorno da colônia. Três detentos seguem sumidos. Por duas
vezes, policiais civis fizeram escavações na região, mas não encontraram
vestígios.
As
últimas duas mortes aconteceram na véspera da Páscoa, quando um preso matou o
outro a facadas. Em seguida, o matador foi executado, também a facadas. Motivo:
a primeira morte teria irritado detentos de facção rival que estavam
acompanhados de mulheres e a confusão atrapalhou os encontros íntimos.
Fonte:
ZERO HORA